sexta-feira, 18 de junho de 2010

cto

Ele refletia o que fazia naquela sala fechada. Havia apenas uma janela do seu lado esquerdo, a suas costas se encontrava a porta fechada, para depois da porta, uma recepção não muito grande, que esperar pelo menos 20 minutos, pois chegara antes, como de costume.

À sua frente, uma pessoa que não conhecia. Ficava de frente encarando-o, ele não sabia muito bem o que fazer naquele momento. O silêncio o consumia, mas as palavras não saiam de sua boca. Ela estava ligeiramente seca. Olhava para o lado oposto da janela e via uma estante cheias de livros e se questionava se aquela pessoa a sua frente já lera todos aqueles livros, ou era apenas para impressionar os desligados. A pessoa usa um oculos meio pesado, que dava um ar de estudioso e de mais velho, mas via entre as lentes que não tinha mais de trinta anos.

Essa analise pesou, questionou se poderia confiar o seu segredo para aquela pessoa... mais nova que ele, como ele poderia saber o que estava passando com ele? Essa questão deixava a boca mais seca que nunca. Olhou novamente para a janela e ao lado dela tinha uma cama.

Pensou em se deitar lá, mas ficou com dois pés atrás, apesar de estar muito cansado, haviam noite que não dormia direito.

“sabe”, seguido de reticencias foram as primeiras palavras e que poderiam ser as ultimas se não continuasse. Tivera uma experiencia muito ruim no passado com esses tipos de pessoas. Foi quando aconteceu a primeira vez, a pessoa parecia muito mais velha e experiente. Não foi preciso nem cinco minutos de conversa para ele diagnosticá-lo como louco, pedindo para um amigo dele dar uma olhada nele e em seguida receitando um remedio que o deixava totalmente incoerente, seus movimentos ficavam mais lento, seus pensamentos não seguiam o caos de antigamente. Sentia-se preso ao remédio.

Abandonou o tratamento.

Fez a única coisa de deveria fazer, procurar ajuda, apesar de não estava atrapalhando a vida contidiana, mas tinha medo que as pessoas descobrissem. O que os outros pensariam dele?

Tinha medo do bulling impresarial, apesar de não ter esse rótulos, muitas empresas reproduzem de uma forma aceitada pelas sociedade as humilhações das pessoas para que elas trabalhem mais.

Escutara muitas estorias de pessoas que começam a surtar depois de usar drogas, porém esse nunca fora problema dele. Nunca usara, nunca teve interesse de provar.

Então engoliu o que poderia se chamar de saliva. Seus sentidos estava em alerta.
“então doutor, estou com um problema” fez uma pausa esperando alguma reação daquele ser humano que parecia ler sua alma, baixou a cabeça e continuou. “ Sei que você já disse que não é doutor, mas vim aqui procurando ajuda, então te vejo como doutor”. Olho novamente e finalmente fez um sinal de afirmativo, estava mais relaxado, mas os sentidos estava lhe apontando que poderia vir problema depois, mas continuou mesmo assim.

“Eu vim aqui, por... tenho um amigo que está com um problema muito grande”

“qual seria esse problema ?“ Enfim falou.

“Ele escuta vozes” olhou para ver sua reação. Não conseguiu ver nada além de duvida em seu rosto.

“Na verdade, desde os 15 anos” fez uma pausa para saber até que ponto poderia seguir antes do desastre. “ chegou a tomar remédio, e as vozes continuaram, aumentou-se a quantidade e nada”. Ele parou.

“esse amigo continuou escutando vozes”?

“sim, sempre... mas nunca falou para ninguém”

“Como você sabe disso tudo se ele não contou para ninguém?” Os olhos se esbugalharam e pensou: fui desmascarrado. Suava frio e não sabia direito onde colocar a cara. Queria sair correndo pela porta. Pensou um pouco melhor e fez a melhor coisa que poderia fazer, mudar de assunto.

“sabe, na verdade estou aqui, porque não tenho durmido à noite direito”.

“você consegue ver alguma causa especifica?”

“não, certo que tem a questão do trabalho que me consome até a alma, mas não tenho do que reclamar” continuou a olhar as reações do profissional que tentava desmacarar e quase conseguira, de forma brilhante, ao seu ver. Ficou horas, sessões falando do trabalho e do amigo “doido” como ele intitulava.

Um dia, “o que essas vozes falaram para ele quando tinha 15 anos?”

Ele ficou tentando lembrar, mas de alguma forma ele nao lembrava. Já estava acostumado com a pessoa estranha ficar escutando os problemas dele. Primeiramente faloou que não recordava. Depois continuou falando quando veio em sua mente.

“eu estava lá parado, olhando para uns amigos esmurrando um doido na rua, meus amigos eram todos usuários de drogas, não usavam drogas pesadas, mas usavam drogas, e a voz me veio: o que fez ai parado? Fiquei olhando para todos os lados e nada, não era voz de nenhum amigo meu. Achei que fosse minha imaginação. Ela veio novamente com a mesma pergunta. Eu sai de lá e me distanciei desdes amigos” calou-se percebendo que havia trocado todos os eles por eu. Se amaldiçoava, não tinha como ele perceber e conectar, dai seria o fim. Como nada veio continuou e resolveu continuar com eu e falar que estava reproduzindo como ele escutara e que tinha uma memoria sonora muito boa.

“Teve outras vezes também...”

“você consegue ver alguma conexões entre os casos”

Ele pensou e pensou antes de responder

“ acredito que não tenha nada” Droga ele percebeu, pensou ele. Sou doido mesmo, não importa o que acontecer, não virei mais aqui, este cara sabe demais de mim, e eu não sei nada dele, que merda de relação é essa? Fica ai sentado e me olhando e provavelmente fica pensando um monte de coisas e não fala nada.... de repente para os pensamentos e percebeu que estava se sentindo perceguido por aquela pessoa que estava novamente a sua frente. O que ele poderia fazer?? Com toda a certeza era a ultima vez...

“aconteceu alguma coisa? Parece que você percebeu alguma coisa mas não quer falar”

Filho da Puta....

A boca secou novamente como da primeira vez e ficou pensando o quanto o outro poderia ler sua mente.

“estou sendo perceguido...” falou seco como o deserto. Os olhos do terapeuta se contrairam como se estivesse dando zoom nas máquinas fotográficas, e ajustava o foco para conseguir ver para além daquilo.

“como assim perseguido?”

“perceguido, você não sabe a sensação de ser perceguido? De ter sempre alguém te lendo a alma? De alguém estar sempre escondido, esperando apenas você se distrair para te atacar...” Enfim o silêncio tomou conta do recinto e um mal estar veio junto com tudo aquilo que ele tinha falado e só pensava. Puta merda.

“mas quem está ter perceguindo desta maneira? Como assim, ler a sua alma?” Não sabe o que responder, que raios de pergunta era aquela, ele pensava, mas logo em seguida vinha outra frase: Puta merda. Logo após a pergunta, seus olhos ficaram arregalados. Ele não consegue ler mente? Se questionava.

“você!” apontou “sei que você sabe muito mais do que fala, sei que me acha uma louco de pedra, quem não acharia? Você sempre com esse olhar de questionário, ainda não entendi porque você ainda não me receitou o remedio” O tom era cada vez mais alto.

“mas remédio para que?”

Ele paralisou com aquela pergunta.

“primeiramente não sou apto a te receitar medicamento. Estou aqui te escutando durante todo esse tempo, e ainda não entendi direito o que acontece... você fala de vez enquando de escutar vozes, mas parece que essas vozes sempre te ajudam nas horas de perigo e..”

Parou de falar.

Suava frio, estava muito perto do que ele mais temia, hora de sair correndo temendo o inevitável. Momento de encontrar com ele mesmo.

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