quarta-feira, 16 de outubro de 2013

À minha criança...

               Prometi não escrever sobre  a dança esse ano, mesmo porque nem um grupo de dança está formado... aliás o grupo vem desconfigurando a cada instante... será que foi o tempo da dança? Estaria eu intuindo que esse seria o meu ultimo ano?
                A vida vem dando bordoadas de todos os lados e minha criança interna vem acuando a cada dia mais para dentro na fuga das dores da vida em busca de respostas imediatas... O vai não vai que não foi de uma promessa ainda não cumprida... desanima o corpo que quer se mexer... que tinha um objetivo... mas como numa brincadeira de criança, o tempo passa sem que se perceba... assim como ela, a brincadeira, perde o sentido com uma facilidade ímpar... O que eu sinto não se dá no sentido lúdico...  o tempo que passa sem nada acontecer... sem um sentido real da questão... é um tempo apenas... é um não ocupar... é vazio de sentido.
                O desenvolvimento de uma ideia tem um determinado tempo e que deve ocupar um espaço. Sem a ocupação do espaço, a ideia, a criação não passa de uma fantasia... de um fantasma que assombra a todos... mas é preciso deixar que as coisas rolem no tempo que devem rolar... Isso eu sei de cor e salteado, racionalmente falando, mas não estou falando do racional... estou?
                Quais são as nossas fugas internas para dar sentido ao que se está vivendo? Eu tenho descoberto muitas dentro de mim, fugas que me levam para a fantasia, para a escrita, aliás a escrita me ajuda a concretizar minhas ideias fugitivas da vida...
               A dança da vida está no descompasso do meus pés embriagados e saudosos do tempo ido... mas a vida não é só o passado, ela tem o futuro e são esses mesmos pés que travam para seguir na dança da vida... eu estou parado esperando o ritmo entrar em meu corpo novamente para voltar a movimentar os pés... para enfim dar o primeiro passo, o segundo... o terceiro e finalmente começar a dançar.
                Por vezes, fico refletindo o que eu devo fazer para conseguir dar os passos necessários para a dança realmente sair... e me vem a imagem da mala, da mala que carrego comigo para todos os lugares. A mala que pesa a alma de todas as coisas que eu fiz e deixei de fazer.
                Pesa a escolha... o meu compromisso com a dança seria uma fuga? Ou eu estaria escrevendo tudo isso pelo fato de saber que não vou poder dançar durante um mês?...
                O que eu sinto é que meus pés estão no vazio. Balançando, tentando encontrar um chão para o corpo sentir: “Agora vai”... mas esse chão ainda não é chão... é o momento da espera... mas a criança não espera... ela é o aqui e agora, no máximo no instante seguinte...
                Sim, esse é um momento que eu tenho que esperar por muitas coisas, porque parte da vida se faz da espera. Não da espera pacifica, bucólica, mas da espera ativa que nos lança para a vida... mas sempre é acompanhada da angustia da não resposta...
                Sendo assim o que me resta é deixar as coisas acontecerem... se dançarei? Não sei dizer, porque até agora não há nada... e meus horários e minha condição física e emocional também não estão lá essas coisas... o que eu posso dizer é que mesmo que eu não possa dançar esse ano, baterei palmas para o processo, farei uma reverencia para minhas angustias, darei um viva para a criança que ainda não morreu dentro do mim.