terça-feira, 26 de julho de 2011

Rebecca - Estoria

O quarto não era nem escuro, nem claro, era apenas um quarto sem vida, ou melhor, com pouca vida. Havia um ruido constante de máquina e um bipe de vez em quando. Acortina dançava levemente devido ao vento que passava pela janela. Naquele dia em especial, não havia nada de especial, era a rotina daquele horário.

Soava um chave rodando na fechadura, eram seis horas da tarde. A porta foi aberta delicadamente, Rebecca entrou sala a dentro, com seus belos cabelos, de altura média e belo corpo.

Entrou pela casa com suas olheiras de cansaço, fazia tempo que ela não dormia direito. Apesar disso, ela aparentava bem mais nova do que seus vinte cinco anos. A genética sempre ajuda, pensava ela, toda vez que se olhava no espelho. Apesar de tudo o que acontecerá a natureza foi boa com ela.

Entrou suspirando como era de costume, deixou suas coisas na entrada e foi direto para o banho. Tomou-o bem lentamente, acariciando sua pele com todo cuidado e carinho que alguém poderia ter. Trocou-se, colocou uma roupa mais confortável e foi para a cozinha. Colocou a comida na mesa, sempre preparada para dois.

Sentou, preparou seu prato, fechou os olhos e rezou. Abriu-os lentamente, pegou seu garfo e sua faca, brincou com a comida, sem ao menos colocá-la na boca. Isso era muito comum, tentava jantar, mas nunca conseguia, seu estomago embrulhava e nada entrava.

Empurrou o prato de lado, colocou seus cotovelos na mesa e afundou seu rosto em suas mãos. Começou a soluçar e o choro veio forte.

Retomava o controle devagar, respirava profundamente e lentou. Jogou a comida fora e lavou a louça.

Seguiu para o quarto, sentou na cama, suspirou profundamente, como se sua vida esvaísse por aquele suspiro.

Olhou para o lado, onde se encontrava uma maca e os aparelhos. Há 4 anos, vivia daquela forma.

Eram felizes, recém-casados, quem não é? Certo que havia os casamentos forçados, mas esses não contam, o que era mais lindo na historia deles eram que eles eram apaixonados um pelo outro. Sempre via as fotos para relembrar os bons momentos.

Maldita realidade... pensava. Sentia-se culpada, foi por isso que cuidou dele, durante todos aqueles anos.

“hoje, conheci uma pessoa... na verdade, não conheço de agora... mas sinto que apenas agora é que eu a conheço. Ela me faz sentir segura, me tira os problemas das costas... até massagem ela fez em mim... Me senti solta... leve... pela primeira vez em quatro anos...” Olhou para o chão.

“sei que não é sua culpa e nem minha... mas com ela, eu posso conversar.. falar.. ser tocada... sinto tanta falta disso.. nunca pensei que isso fosse acontecer com a gente... Sei que jurei amor eterno.. na saúde e na doença... juro que estou tentando...” chora mais uma vez. “ Se pelo menos você piscasse... poderia te sentir de alguma forma... mas...” suspirou novamente.

“Fui em todos os lugares, conversei com todas as pessoas que eu consegui conversar e nada mudou... gostaria tanto de poder sorrir novamente, mas todas as vezes, que penso ou me vejo sorrindo, me sinto péssima!” Silenciou, como se esperasse algum retorno sonoro daquele corpo imóvel. Ele continuou do mesmo modo.

Voltou seu olhar para sua mão, refletiu mas um pouco.

“O que você espera que eu faça?” Novamente a pergunta se perdeu no vazio.. Voltou a chorar.

“Sabia... não sei porque insisto” Levantou e foi até a cozinha tomar um copo de água. Tudo de forma muito melancólica. Seus ombros doíam, parecia carregar o mundo nas costas.

Seu olhar fugia pela janela a fora, enquanto segurava seu copo delicadamente.

Quando seus olhos voltaram para o quarto, o peso de seus ombros pareciam estar pior. Se ela fumasse, estaria já no terceiro maço, se bebesse, estaria em coma. Seguiu lentamente de volta para a cama. Com uma única frase na cabeça. “foram quatro anos”. Sentiu-se velha, queria tirar aquele peso de qualquer jeito. Ficou na porta olhando para dentro do quarto.

Olhou para o plugue da tomada. Agachou e segurou no intuito de desligar. Ficou um tempo ali, naquela posição. Fechou os olhos como se estivesse tomando coragem. Então, um desespero bateu dentro dela. Abriu os olhos e desesperadamente se jogou para o canto do quarto e encolhida e envolvida em seus próprios braços, começou a chorar.

Quando se recuperou, levantou e foi para ao lado da cama. Pediu perdão, por ter pensado em algo daquele gênero. Jurou amor eterno.

Quando foi sair do quarto, tropeçou no fio, que desligou os aparelhos. Quando se recompôs e percebeu que não havia mais ruido da máquina, se desesperou e gritou. Ficando chorando em cima do corpo moribundo.

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