Algo de velho me veio a cabeça ao ler um curto depoimento no Facebook, de alguma forma tem relação com o momento no qual estou vivendo. Não é a pretensão deste texto chegar a uma verdade, mas questionar e encontrar uma possibilidade deste momento. Não recorrerei a outros autores, porém poderá ser encontrado algumas menções diretas ou indiretas, já que estou imerso a eles, porém, não tem um valor acadêmico, mas algo mais dentro de um mergulho pessoal.
“Não precisa ser tudo ou nada! Casual também é bom!”
Esta é a frase, falarei de como ela me vem, não sendo uma critica ao tipo de pensamento, mas como ela me toca e me desloca, não sendo uma estrita resposta ou sentimento a ela, já que por vezes, ela já me veio na cabeça, não exatamente neste termos, mas estava muito presente.
Destrinchando a oração total em partes e caminhar aos poucos. “Tudo ou nada” tem o sentido de algo que deve ou não acontecer, outras expressões semelhantes são: “ou vai ou racha”, “8 ou 80”, tem um sentido de viver nas extremidades, como se fosse preciso fechar os olhos e se jogar num abismo, não podendo haver um caminho menos doloroso ou um caminho que as escolhas fossem menos penosas e temerosas. Mostra uma atitude radical, fixa, presa ao ser ou não ser e a parte seguinte modifica o “ou” para “e/ou”.
Com a partícula negativa no inicio da frase, o autor coloca que não há necessidade de viver nesses extremos, e isso me lembra alguns conceitos como o caminho do meio, tanto búdico como judaico. Sendo que o Judaico, fala que deve se andar no meio da estrada, pois nas beiradas há os sulcos deixados pelas carruagens e aqueles que andam neste lugar, podem se machucar com maior facilidade e não conseguem ver muito distante, estão sempre olhando para o buraco. Já os budista, o caminho do meio se dá não pela omissão de ambas as polaridades, mas é a tomada de um caminho que nem sempre é o mais fácil, mas o que aparentemente é o correto. Há uma escolha entre ir por um caminho, ou por outro. Exatamente meio não parece existir, mas a metáfora se mostra no balanço de um barco, ele nunca está parado, mas nunca está em uma única extremidade, há um equilíbrio para poder manter sobre a água.
Não seria estar em inercia, então. Com isso, não seria não querer se responsabilizar também. Ser maleável como um bambu, porém a frase seguinte foi aquela que me tocou mais estranhamente.
“Casual também é bom!” a principio quebra tudo o que havia falado, pois há um prazer do acaso, e acaso não tem uma escolha muito precisa, algo que acontece de vez em quando, que a principio não há um preço. Como tomar uma decisão dentro do casual? De alguma forma é deixar também dentro da inercia. Outra pergunta é qual é o medo que envolve nesta frase? Aquele que grita dentro de mim.
Mudo rigorosamente de assunto. Resolvo pensar em minhas vivencias que me trazem esta questão que são as relacionais e para isso teria que tentar desenvolver um pouco mais daquilo que acredito que separa o ser humano das outras coisas. Tentarei ficar o mais distante do dicionário, ele fecha a questão e o pensar e sentir se fecham em poucas palavras.
A palavra Amar é a palavra que muda tudo, justamente por não sabermos direito o que ela significa e damos muitos significados a ela. De alguma forma a frase a inicial fala desse amar. Ela pode se transformar em Arma se trocarmos as letras de ordem. Não sendo este caminho a seguir, introduzo o conteúdo da reflexão, para enfim, voltar a discussão inicial.
Conversava com alguns amigos, cujo o pensamento estava voltado para um ser humano físico-químico, devido a formação acadêmica de cada um. Fiquei assustado pelos caminhos que a conversa andava, já que de alguma forma há um sentido, há uma lógica por trás e como seria possível quebrar essa lógica? Realmente o ser humano é regido pelos estímulos físicos e químicos e há algo a mais, que a física e a química não explicam. Como falar disso, sem entrar num dogma religioso? Já que a palavra Amar é muito usado pelos cristãos, no exemplo.
É deste que começo a discussão: “Amai o próximo, assim como ama-te a ti mesmo” esta frase parece simples. Faça para os outros o mesmo que você faz para você mesmo, posso ficar mudando as palavras e criando outras possibilidades de falar a mesma coisa e continuar alienado ao sentido dela. Por um tempo de minha vida, tentei seguir estritamente esse conselho, porém, eu errava em algum lugar, pois eu desgostava de algumas pessoas, e pelo que havia aprendido esse amor era o amor mais pleno e etéreo, com isso, eu precisava amar a todos. Um dia percebi o quanto eu me odiava em alguns momentos da minha vida, por ter ou não feito algo perante uma situação, mas como também eu me achava dentro dos sentimentos quando algo que fazia era positivo. Percebi nesse momento, que esse “Amar” não era apenas um sentimento positivo, e que poderia muito bem ser substituído por sentir, ou sentimento. No fundo, aprendi a respeitar o outro como deve ser respeitado. Assim, como uma criança, quando faz má criações e os pais reprimem esse ato, aprende como deve responder a tais situações e respeitando o outro na sua particularidade, nem mais nem menos, assim a vida deveria seguir com os outros, porém, segundo o que eu compreendo da religião cristã, se não amar a todos de maneira positiva, significa uma fraqueza e a culpa recai sobre as pessoas, além da sensação de impotência perante o tal feito não cumprido.
Esse argumento não me serviria de nada dentro daquela conversa com aqueles amigos, pois eles afirmariam que a religião não cabia dentro da discussão e além do mais, eu distorcia o sentido original, e por fim que o amar, é apenas um estimulo elétrico, e gerações químicas dentro de nós.
Falo que o ser humano, é constituído de água e que o material elétrico não suportaria, pois a eletricidade e água não se combinam. Porém, dentro da minha imaginação percebi que também, não seria isso que mudaria a conversa, pois os robôs podem muito bem serem constituídos por fios e placas com circuitos que recebem o comando de uma CPU central (Neurônio e Axônios e SNC). Água também não era um bom argumento, certo que coloquei no sentido dos cristais de água mudarem conforme o tipo de pensamento, algo que ainda difere o ser humano das máquinas. Não me bastando ataquei a matemática, lugar que ficam a todos a comprovação de que é “real” ou não. Sempre colocada como a ciência mais exata, porém dentre todas as ciências ela é a mais imaterial, mais abstrata. Como podemos então depositar nossas crenças em uma comprovação da realidade num método abstrato?
Não fiquei contente, mas satisfeito com a resposta pois assim ganhara um tempo para pensar mais, algo gritava ainda dentro de mim. Contradição e ambivalência, dois sentidos contidos em um sentimento, estava satisfeito mas não contente ao mesmo tempo. Aqui estava a chave, mesmo na ideia cristã, não tinha como, percebia que uma determinada pessoa, oras eu gostava de estar perto, oras me sentia sufocado e a queria muito longe. Seria a mesma coisa, que falar para um computador que zero é um e zero é diferente de um, apesar de poder se pensar em colocar que zero é diferente ou igual a 1´ ou ´´ ou ´´´ assim por diante. Mas há uma contradição em nós que nos diferencia dos outros seres. No caso do computador, quando há um conflito de informação, ele simplesmente trava, enquanto que o ser humano continua até encontrar uma solução para o conflito. Seria possível ensinar o computador resolver conflito? Ou melhor a viver no conflito?
Dentro desta humildade, procuro argumentos melhores com a questão do físico-químico colocada por esses amigos. Pensei na questão do remédio novamente, e quando uma pessoa vai se tratar com qualquer profissional da saúde. Muitas vezes, o remédio fica secundário a atenção que aquele que procura ajuda recebe do profissional, sendo que um mesmo remédio pode ter dimensões de cura diferente, dependendo do profissional que cuida. Isso sem levar em conta o indivíduo em si e todas as questões envolventes.
Há algo ia que nos modifica, algo inexato. Quando se trata uma pessoa, as anamneses seria uma maneira de entender como cada pessoa “voa”. Aqueles que não são tocados pelo voo dos pacientes não percebem o quão belo tem abaixo da questão de cada um. A intenção destes profissionais deveria ser almejar que o outro reaprenda a voar livremente.
Assim como um pai ou mãe cuida de um filho ou filha, o desejo é que eles brilhem, que eles voem, pois somente assim, eles serão muito maiores que são neste momento como casal. Verão a sua própria criação voar e ficaram admirando o voo deste.
Seguindo o pensamento que não para, a questão da paixão e amor platônico surgem. O ultimo ocorre quando este sentimento se encontra apenas em uma direção, mas o que fica apenas de um lado? Pensando nas crianças que olham para uma pessoa mais adulta e ficam admiradas por ele, querendo ficar com ele em todos os lugares, porém há um impedimento. Apesar do impedimento, aquele que ama continua tentando em seu imaginário estar com o objeto amado. As pessoas ficam admirados como a outra pessoa voa, assim como se pode ver no inicio de Werther, que logo deixa de ser, se transformando numa paixão, momento que ele deixa de ser ele, que não consegue viver sem a pessoa desejada. Ele não existe e segue até ao aniquilamento de si.
Na paixão a pessoa fica a mercê da outra, é algo que invade e o amor tem um querer ficar junto, porém, se é ativo.
Recolocando, o amar se dá no momento que ficamos admirados com o voo alheio, sendo o desejo de acompanhar aquela beleza, então voamos perto para saber o que o outro faz e aprender com ele. Quando se encontra um outro que o estimule a voar cada vez mais alto, mais alto se aprende a voar, pois é ali que se quer ficar. Algo que quando se está sozinho, não é possível, pois a verdade que se conhece é aquela que se aparece, a que ele é possibilitado a ver. A partir do momento que alguém descobre que pode voar mais alto do que aquela altura, e caso ela não admire aquele que voa alto, ela temerá e pode também fazer de tudo para diminuir aquele voo, para se sentir na mesma altura porém sem alçar voo maior. Sendo assim, tem uma outra parte que não foi colocado aqui.
Apesar de admirar o voo do outro, tem uma força contra que deseja que a pessoa voe ao seu lado, pois é um belo voo, nisso congelamos o outro e ficamos admirando aquele voo do passado e segurando para que o outro não voe, pois se realmente deixarmos o outro voar como deve, talvez esse voo será para muito longe de nós e não é prazeroso admirar o voo do outro de longe. Muitos pais, não deixam seus filhos alçarem voos, pois para isso, precisam abrir mão desta admiração de perto. Pensando numa relação mais adulta, não seria a mesma coisa?
Nesse sentido volto para a frase inicial, seria este casualmente uma maneira de manter a admiração esse voar sem prender o outro? Distante porém presente. Chego nessa questão, ainda me com muitas questões. Ficar nesse vai e não vai, as pessoas também se prendem num falso voo, pois fica na questão de não querer subir mais e manter o outro ali ao lado, já que por vezes, subir demais pode causar dor, pode ser queimado pelo Sol e perder as asas, assim com Icaro.
Outro ponto é que no fundo há um medo de não ter que fechar as portas para outros voos. Ou quando a pessoa que voa do nosso lado, não é voa como queremos voar, de qualquer forma há um receio de fechar portas, porém, mesmo não querendo fechar portas, elas uma hora fecharão e quando se olhar para o lado e perceber que muitas portas se fecharam, o desespero aparece, pois imaginávamos voando alto, porém estávamos dando rasantes a todos os momentos.
Escolher um voo, não significa ficar preso, como sempre foi visto, porém descobrir outras possibilidades com o outro, é abrir outras portas que antes não era possível serem abertas por si. No fundo Respondendo aos meus amigos: só poderá haver um robô parecido com um humano, quando for possível ensinar amar, ou seja ensinar admirar o voo do outro e ficar no eterno conflito em deixar ou não o outro voar por si. E a frase: admiramos o voo, muitas vezes, gostamos de acompanhar o outro no seu voo e ficamos felizes quando o outro também aceita a voar com a gente. Casualmente é não ter encontrado, mas estar passando o tempo para encontrar, mas enquanto estiver no casual, como sabemos se é ou não? Já que não entramos em contato real com o outro? Além de no fundo não libertar o outro verdadeiramente, para que ele se descubra em seu voo?